Eu não sei desde quando eu quero fazer Medicina, mas esse era o meu maior sonho. E sonho não se troca! Aos 15 anos, entrei no semi-noturno do Alfa, indo e voltando todo dia da minha pequena cidade, Ubiratã, descobri o grande abismo entre a minha educação pública e o sonho de ter meu nome na lista de aprovados em Medicina.
Tendo enfrentado a perda de meu pai dois meses antes de começar o cursinho e o segundo ano matutinamente paralelo ao cursinho noturno em minha cidade, enfrentava uma exaustiva viagem em que, desde o primeiro simulado, tinha ficado claro que o ano seria decisivo para uma vindoura aprovação. No primeiro vestibular, UEPG, a realidade bateu e percebi que a restrição da distância tinha que ser derrubada se quisesse algum resultado e comecei a frequentar o integral aberto de quinta à tarde, mesmo que isso me custasse mais de duas horas de viagem em ônibus de linha e pesarosos gastos de alimentação e passagem, mas, com o apoio do Tio Luiz, notei que meu esforço não seria em vão.
Com a chegada do último semestre de 2016 e as respectivas aprovações, começou o desespero nato de um vestibulando em perceber que você está em uma fila na qual parece estar em último. Com a chegada dos vestibulares de verão e o recesso escolar, comecei a pegar a van das 05:00 da manhã e, sem poder frequentar as aulas da manhã, acabava estudando nas salas abertas até que de tarde pudesse encontrar algum professor, sempre atencioso, pelo corredor para tirar dúvidas da matéria. No último dia de inscrição, com muita insistência do Tio Luiz, acabei me inscrevendo na UFPR (pois tinha medo do resultado ruim) e, para minha surpresa, semanas depois, estaria entre os selecionados para a segunda fase. Acabei dividindo o tempo da segunda etapa com o vestibular da UNIOESTE e sentia uma notória falta de conteúdo para enfrentar ambas as provas. Por fim, minha confiança desabou com um zero em uma das 5 redações da UFPR e a falta de aprovações, mesmo tendo dedicado muito tempo para a redação e tendo um desempenho ótimo nesse quesito na UNIOESTE. Eu tinha zerado o vestibular que eu desejava, o medo do último ano e a incerteza de continuar com o meu sonho estavam ao meu lado.
Na última hora de aula do último dia, consegui uma bolsa para ficar mais um ano no Alfa, mas ainda era um caminho tortuoso. Não tinha condições financeiras, mas a minha vida está carregada por anjos e logo eu conheci vários. Sem condições para pagar nem minha alimentação, precisando de ajuda para encontrar onde morar, obtive auxílio de onde menos esperava, mas ela foi um passo importante para minha aprovação. Com essa mentalidade, me mudei para a cidade de Cascavel e para a unidade Central Park com a certeza de que estava fazendo a escolha correta. Passei a estudar doze horas por dia. Dividia meu tempo com o terceiro ano do ensino médio, cursinho e a saudade de casa. Naquele momento comecei a notar um ritmo de estudo inigualável em que se passa todo dia no integral e a eficiência de tirar dúvidas no momento que ela surge. Seguia o plano de estudos e não perdia uma revisão de sábado. Saía do Alfa apenas às 19:00, hora que começava minha aula no colégio público.
Com tudo isso, ainda faltava muito para eu conseguir a tão esperada vaga para a universidade. Começava a entrar em pânico nos simulados por uma pressão demasiada que eu mesmo colocava. Então continuei com o apoio pedagógico da Noilma, estudava no domingo das oito da manhã às nove da noite para conseguir vencer minha carga horária, mas faltava a confiança para confirmar meu nome na lista. A luta continuava com um avanço na dedicação e dedicando o máximo de tempo possível aos estudos. No simulado do Alfa mais importante para mim, modelo UFPR, tive a infeliz surpresa de não ter sido classificada para a próxima etapa. O que faltava para eu melhorar no vestibular que eu tanto almejava ? A resposta veio na frase que eu sempre repetia para o professor Felipe “eu tenho que passar esse ano” a teimosia e a falta de opção em ficar mais um ano em Cascavel começaram a dar resultado quando, no meio de 2017, fiz UEPG de inverno e, mesmo zerando Matemática (o que demonstrava um longo caminho para percorrer) obtive o nono lugar da estadual e a certeza de que conseguiria mais se mantivesse o ritmo.
Os problemas financeiros e o tempo persistiam como um inimigo silencioso. Comecei a treinar as discursivas de minhas específicas no integral com ajuda dos professores de Química e Biologia enquanto dividia os poucos minutos restantes da minha agenda com a matemática básica complementando com o Plus de Matemática. Com a aprovação da FAG de verão, corroborei que o caminho estava correto, mas o peso da prova e o medo da UFPR começaram a ser um problema. Comecei a fazer, diariamente, resoluções das provas anteriores tentando decifrar a banca. No dia da primeira prova, o apoio do diretor Joãozinho e dos professores até a entrada da sala me fizeram decidir que aquela seria a prova que me colocaria dentro da universidade.
Verdadeiramente, não lembro da resolução, porém, saí de lá com a sensação de dever cumprido. Depois da primeira fase bem sucedida, tinha como obstáculo as próprias lembranças e o medo da repetição de uma segunda frase fracassada. Cheguei ao Super com a certeza de que a federal seria a opção para a aprovação, a Noilma novamente me ajudou com o material para eu seguir nas aulas até o final. Na segunda fase, mais calma, dei o máximo possível, mas errei no tempo e acabei tropeçando na redação e saí, novamente, chorando da sala de prova com medo de um novo zero. Porém, como prova do esforço de um ano inteiro focado nisso, Química e Biologia tornaram-se fáceis. Amarguei uma nova reprovação na INTEGRADO, o que me deixou desolada, enquanto a prova da UEPG me trouxe um oitavo lugar. Os meses contaram e a aprovação na minha amada Universidade Federal do Paraná chegou e dessa vez com um quarto lugar cotista.
Não há maneiras de descrever como é a sensação de conseguir a vaga que eu desejava, porém, com dois anos de Alfa, descobri que cada aprovação representa um colégio que se dedica ao aluno. Finalmente, agradeço às dificuldades que eu enfrentei, pois elas me tornaram fortes e vejo o quanto um colégio forte torna o aluno forte. O Alfa não mudou apenas minha jornada, mas minha descendência.